diamente

fluidos
diamantes
tilintam
vértices
equidistantes

o devir anunciado
refrações
reflexões

a luz

a mente
lapidada
em ângulos
contem olhares
difração
brilhos
antigos
escoam
em vórtices magnéticos
a certeza
do ser perene

anêmona

vejo-a
viva
vagando
alma
alva
alta
em voo
lívido
altivo
à espera
revelação maior
seu manto
fios de luzes
multicores
tremula
movimentos astrais
malha amorfa
anêmona
o óvulo
o esperma
o espaço
o vazio

às cegas

tateio
às cegas
as camadas
sobrepostas
do horizonte
escuto
atento
a natureza da luz
amanheço a retina
na desintegração das formas
em tons cinza-violáceos
elíptico
sinto-me em rota de colisão

fotossintéticos

a palavra
lavra
o terreno
fértil
do pensar

livra-nos
das intempéries
do viver

a palavra
vala
rasga o solo
e aterra

em seus sulcos
brotamos
crescemos
enraizados
em novas estruturas

sementessentimento
caulesfrasais
galhosilabicos
folhasconsoantevocálicas
em busca da consciência solar

fotossintéticamente

somos
verbo

alma líquida

o céu
em alvos
tufos cinzentos
revela
a alma líquida
no interior recôndito
do sentir

do peito
escorre
lenta
a dor
sedimentada
nas encostas
das entranhas

tudo é pó
tudo é água
tudo esvai-se
como fumaça branca
por entre
a trama
do existir

alvo

o manto da morte
desnuda
a carne sedenta
morro em ti
em jorros de lava
elevação
me desdobro
nas dobras do tempoespaço
mil faces se apresentam
um ponto azul
no quadrante sul
da esfera celeste
se revela
sagas sagitas
ser
flecha
arco
arqueiro
e alvo

distante

tudo surge
como num encanto
o amor
fica maior
a presença
já não está
o coração sabe
e reconhece
cada momento
distante
um olhar
um adeus
um acenar
tudo faz parte
uma canção
traz folhas secas
de outra estação
momentos não vividos
o tempo
estanque
em ondas
imóveis

véu

vozes noturnas

imprimem
seus rostos
contra o véu da escuridão
observam meu leito
a morte é iminente
olho
o corpo
inerte
sonhando a realidade