foi enterrada no chão
nem honras
nem cerimônias
a terra que sempre
cultivou
agora é seu refúgio
imensidão
caio num sono profundo
imersa em fluídos estranhos
num solavanco sou tirada dali
de volta
por um breve momento
o tempo pára
e sou lançada na imensidão
busca
entro na tua casa
buscando teu sorriso
e encontro coisas
imagino o tempo voltando
nós nos abraçando
curando nossas feridas
e nos dizendo palavras de amor
momentos
sou apegado a momentos
busco reviver cada passagem
para não te esquecer
sei que todos os dias
quando o sol bater nas folhas das árvores
tua luz vai invadir a velha casa
e nos revelar eternamente juntos
inerte
deitada aí
onde estás agora
ninguém sabe
das tuas feridas
mais profundas
ninguém viu
tuas curas mais belas
descansando assim
ninguém imagina
quantos trabalhos realizaste
dormindo dessa maneira
ninguém sabe
dos teus sonhos mais caros
neste breve momento
tuas mãos
inertes
me dizem
adeus
medidas
meço cada passo
até chegar em teu leito
analiso as ranhuras das pedras pregadas no chão
para o tempo não passar
seguro tuas mãos
e juntos temos mais força
o céu está nublado
os pingos da chuva vêm mostrar a transformação
mm cada gota um brilho
e o amor se expande
até não mais existir
choro
chora
que este choro é de amor
chora
que te abraço
e te mostro os caminhos
a partir de agora
chora mais
teus medos
tuas angústias
tuas lembranças primeiras
chora
que teu choro é de lavação
chora
que teu infinito interior
pede para ter um fim
marcas
Marquei-me com o ferro em brasa. Ainda sinto o cheiro de carne queimada. As lembranças vêm desprovidas de sentido. Surgem como ervas daninhas. Como conviver com isso? Os dias passam a me escorar como murros de arrimo. Mas o véu da noite me cega confortavelmente, sem que eu precise me condenar.
As fagulhas em brasa passam pelo meu corpo inerte, já não me fazem mal algum. Tudo está esparramado pelo chão. Tudo o que já tive, agora está acabado.
Saí daquele lugar com a cabeça em chamas. Minhas orelhas pareciam se desintegrar. Apalpei-as levemente e senti uma dor aguda percorrer meus dedos. O cheiro de pêlo queimado percorreu minhas narinas e desapareu no ar. Sentia-me sedento. Foi assim que comecei a me entender melhor.