Frases, palavras, letras, tudo vai fluindo como num novelo; tudo é parte da mesma chuva.Tudo é líquido. A água é a mesma. Desde sempre. Nuvens da mesma era. Fumaça de água sobre nossas cabeças, nuveando a visão. O verbo é o que nos distingue dos animais. Ouvi alguém dizer isso. O dom de elaborar pensamentos. A perícia em construir mundos imaginários através do ato de pensar é coisa de bicho homem. Será? Vivemos todos em mundos diferentes então? Se o mundo em que vivemos é fruto do que imaginamos, poderíamos, então, construir outras formas de viver, habitar e nos relacionar? Filosofias? Mas a vida mesmo, acontece é na rua. É concreto, sabe? Aqui mesmo se cai. Ali mesmo se levanta. Se anda como se pode. Se come o que tem para comer. Ouvi alguém gritando no meio do povaréu. Queria vender bala a todo custo. Disse que poderia roubar mas disse que não queria. Então começou a pedir para que as pessoas comprassem para ajudar. Falou então que não tinha comido nada até aquela hora e que o dinheiro que ganharia ali seria para comer um pão com alguma coisa. Vendeu tudo rápido. Soube se colocar. Não bancou o coitado. Chegou com presença. Humildemente, mas com presença e dignidade. Coisas da Rua. A Palavra tem poder. Penso eu. Escrita ou pensada, tanto faz. Para mim, tem palavra que é vazia e tem outras que são cheias. Isso também depende de quem fala. Cheia é quando a própria palavra quer dizer mais do que ela é. Vazia é quando ela só diz o que ela é mesmo. E quando ela é cheia, dá pra entrar nela. Daí vai puxando outras que estão ali mesmo dentro dela. E vem uma fila grande de outras palavras. Cada uma vai enchendo mais a outra, e outra, e outra até ficar... ficando. Ás vezes as palavras brotam de sentimentos. E as vezes é o contrário. Eu gosto mais quando as elas brotam do sentir lá do fundo. Vira planta. Daí a gente cuida dela e ela cresce e se transforma. Parece que tem vida própria. Agora, tem muita palavra que é vazia mesmo. É pra colocar em nome de rua. Placa de escritório. Essas coisas. Mas também tem palavra que é, pelo som que ela produz na boca da gente. Os sons das palavras. Todas elas. Até as que não conheço, de outras línguas. É música pra mim. Palavras são fortes mesmo, elas definem muita coisa na vida da gente. Sempre me falavam coisas que não queria ouvir. Era um momento. Palavras que faziam calar. Tem palavra que corta, sabe? Era um momento difícil. Não tinha a minha expressão. Tudo que sentia ou dizia não era permitido. Essas palavras começaram impedir que outras brotassem. E logo eu já não era mais eu mesmo. Nesse momento, entende? Estava fora de mim. Tinha que ser assim? Como saber? Eu ficava em outro lugar para suportar tudo aquilo. Havia falta de compreensão.
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