uccellino

stasera
un bambino uccello
azzuro
ha voluto restare da me
in mio letto
sotto vari parole
scritte sull´aqua
con le mani più triste
che già avevo visto
ora andava avanti
ora in dietro
gli occhi
portavano le state

olhares

acordei para um sonho
mãos leves como plumas
atraem o olhar
reminiscências
continuas folhagens
brotam
de uma pelagem
fria
uma cabeça
disforme
lança olhares de era
seca

dia de criança

o quintal da minha
era parque de diversão
tinha horta
pé de fruta
cachorro pra brincar
toquinho era carrinho
bucha era vaquinha
bola de meia
luz de lampião
fogão de lenha
estórias de bruxa
e assombração
livro do Monteiro Lobato
a cada página virada
uma aventura pra embarcar
tinha torra de café
pão no forno pra assar

mãe


quando a mãe terra
despertar para os timbres mais altos
estaremos todos envolvidos
e embebidos em seu puro amor
quando nossa mãe
nutrir os corações
seremos tragados
nem fome
nem sede
somente paz
nasceremos fortes
filhos da terra
e do sol
brotaremos
todos
juntos








meu sol


vejo-o
depontar
por trás das árvores
o coração floresce
com a brisa
da manhã
sinto a luz
suas mãos radiantes
buscam as minhas
sem se tocar
sinto tua presença
o teu calor me conforta
e sei que está
em tudo





o trem


cada um tem seu preço
todos têm seu lugar
passo os dias
esperando
que o futuro venha
me tire desse momento
e me leve
para os caminhos
onde encontrarei
as respostas
cada um tem seu jeito
de se perder
com o tempo
espero pegar
o trem
para bem longe
deixar aqui meu pesar
cada um tem seu momento
todos têm sua razão
hoje
escureceu mais cedo
Maria
aqui dentro
chove sem parar
vou me deitar
ali
na margem dos dias
esperando
a vida voltar




ao seu lado


à noite
peço que cante uma canção
que me acalme
e me faça dormir
peço que me acaricie
olhando em meus olhos
e me fale sobre
as cores do anoitecer
e quando
à noite
eu for sonhar com o rio
que passa e nos leva sem rumo
será da cor da noite
púrpura
como o brilho em seu olhar
e quando enfim
o dia surgir
deitado ao seu lado
despertarei
com o coração tranquilo













nuvens


é preciso desanuviar a mente
para ver o sol e o céu infinito
instintos arraigados
rasgam a tela dos dias
enquanto a chuva cai lá fora
cotuco as feridas
é o início da cura
nuvens pesadas
metálicas
aço flutuante
transmutam suas formas
e pressionam tudo o que existe
para baixo
um coração em fogo
vem me acolher
e vejo seus olhos flamejantes
tudo pára
num instante infinito
compreendo tudo
mas
as nuvens são pesadas
metálicas
aço flutuante
transmutam suas formas
e pressionam tudo que existe
contra o chão
e enquanto caminho
nos meus dias
é preciso sentir
e desanuviar a mente
para ver o sol e o céu infinito





velas ao vento


entre o Sol e Lua
brilha a minha estrela
de frente para as montanhas
alço minhas velas
e os novos ventos
me arrebatam
estou de volta
ao meu lugar
estou retornando
aos poucos
sinto meus pés no chão
novamente




metáfora


os mortos
me procuram
com suas
faces pálidas
querem ajuda
pedem redenção
fantasmas do passado
buscam
sensações de outrora
desejam a volta
suas cabeças
projetam
o que há de imaterial
em não existir









serestar


debruço sobre mim
de forma que
ainda possa respirar
várias vidas vividas em uma
fazem de mim
momentânea presença
estou agora
sou sempre
sou ser de outras eras
a memória
em constante
transmutação
faz incursões
pelo desejo de se revelar
em partes


vincos


Abro as gavetas da memória
resgato as cores de outros tempos
um artesão esculpe cabeças de mortos
em tumbas escondidas no inconsciente
eu pendurado na beira dos dias
uma mão na luz e a outra na consciência

acordo de um sonho
dentro de outros sonhos
estranhas percepções
e me vejo no espelho
refletindo tempos imemoráveis

observo as dobras da minha face
e um vinco profundo
chama minha atenção

ao que vai nascer


"Memória de tanta espera
Teu corpo crescendo, salta do chão
E eu já vejo meu corpo descer
Um dia te encontro no meio
Da sala ou da rua
Não sei o que vou contar

Respostas virão do tempo
Um rosto claro e sereno me diz
E eu caminho com pedras na mão
Na franja dos dias esqueço o que é velho
O que é manco
E é como te encontrar
Corro a te encontrar

Um espelho feria meu olho e na beira da tarde
Uma moça me vê
Queria falar de uma terra com praias no norte
E vinhos no sul
A praia era suja e o vinho vermelho
Vermelho, secou
Acabo a festa, guardo a voz e o violão
Ou saio por aí
Raspando as cores que o mofo aparecer

Responde por mim o corpo
De rugas que um dia a dor indicou
E eu caminho com pedras na mão
Na franja dos dias esqueço o que é velho
O que é manco
E é como te encontrar
Corro a te encontrar"

Milton Nascimento

mensagem


desejo a morte
para tudo o que não faz bem
e que a transformação aconteça
e teu coração
purificado
faça renascer
a luz interior
num universo
de cores astrais

instante infinito


minhas mãos
expressam
a cores
e as nuances
longínquas
das eternas harmonias
um caleidoscópio
invade minha consciência
sou elevado
nesse êxtase
de um instante infinito
me perpetuo
em diversas
espirais
fios reluzentes
que me conduzem
ao além

reencontro


caio em mim
deitado
em verde
azul
amarelo e
lilás
as coisas da terra
entram pelo peito
e me guiam
para outras facetas do agora
prendo a respiração
e sinto meu rosto
em contato com
a grande mãe
num eterno
inspirar e expirar



paralelos


a dimensão paralela
transformará a vida
no planeta
chegaremos lá
leves



seres lunares



as formigas


me deparo com as leis
da natureza
em meu canteiro de obras
meu ser terreno
me deito sobre
o colchão das notas dissonantes
do espaço que se move
em direção ao todo
pequenos seres entrincheirados
em forma de infinito
novas notas
se formam
e meu universo se desfaz
com o vento
a melodia
das formas inexistentes
que formam as cores
da minha aura lunar