Meu despertador é a fumaça.
O barulho nem me incomoda mais. Mas a fumaça é diferente.
Ela vem, devagar, começa bem aqui perto, aqui do lado, bem no meio da rua e quando a gente vê já está tomando conta de tudo. Tem gente que já não percebe. A gente se acostuma com tudo mesmo. Mas pra mim é diferente. Conheço todos os tipos de cheiro de fumaça; de carro, caminhão, cigarro, pneu queimado, fábrica, cinza de caixa de papelão. No fim, todas elas se juntam numa única massa. Enorme. E como que revestidos de um véu macabro, respiramos tudo isso. Homem, mulher, rico, pobre, criança, velho, cachorro, gato, rato, mendigo; ninguém escapa. E bem devagar, essa desmaterialização que vai transformando todos, um pouquinho a cada dia, em ferro, pedra, papel... Fumaça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário