o sinal

Cheguei aqui com uma mão na frente e outra atrás. Vim para trabalhar. Larguei tudo para trás: pai, mãe, irmãos. Meses antes, tinha recebido um sinal de que minha vida ia mudar. Eu queria melhorar de vida e ajudar minha família. Pois do lugar de onde venho, tudo que se planta não vinga. Lembro como se fosse hoje. Cheguei na rodoviária trazendo uma caixa com minhas coisas e uma sacola com algumas mudas de roupa. No bolso trazia as minhas últimas economias. Desci naquele lugar que mais parecia um formigueiro de tanta gente. Encostei em um canto tomando coragem. Fazia um frio que nunca tinha sentido. Estava com fome. Quis voltar para trás. Mas já não podia, o dinheiro não dava. E também não podia deixar de cumprir minha promessa. Respirei fundo. Fiz o sinal da cruz. Peguei minhas tralhas e fui seguindo a multidão em direção à uma escada rolante. Nunca tinha andado numa. Só tinha ouvido falar. Era tão alta que me dava tontura só de olhar. Fiquei ali parado. Até que algumas pessoas que vinham atrás de mim começaram a reclamar gritando para que eu entrasse logo ou que saísse de uma vez. Não sabia o que fazer. Aquele instante se transformou em uma enternidade para mim. Eu ali parado pensando na melhor maneira para entrar naquele negócio sem cair. E a aglomeração aumentando ao meu redor. De repente levei um solavanco e fui empurrado com tudo sobre aquela porcaria. Caí estatelado. A multidão, como uma manada enlouquecida, veio logo atrás. Entre cotoveladas, pisões e pontapés fui espremido na lateral da escada, que subia sem parar. Peguei algumas das minhas coisas que tinham caído nos degraus. Fui me ajeitando e fiquei por um momento imerso em estranhas sensações. Então vi que o final da escada chegava. Titubeei por um momento. Mas fui arremessado novamente pela pressão de todos que vinham se empurrando logo atrás de mim. Naquele momento comecei a compreender melhor o desafio que me aguardava. Teria que encarar aquela cidade. Um lugar onde se é empurrado de um canto a outro contra a vontade.

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